sábado, 26 de novembro de 2011

Fiat Uno Vivace, boa surpresa (Parte 1, aspectos gerais)

Avaliei por alguns dias uma Fiat Uno Vivace 1.0, dotada de ar-condicionado, vidros e travas elétricas, direção hidráulica e faróis de neblina. Uma combinação exótica, assim digamos, pois sequer os para-choques eram da cor da carroceria.

Logo ao adentrar na Uno prateada, fiquei impressionado com o bom espaço interno disponível para o motorista. Esta versão avaliada, de 4 portas, não possuía regulagem de altura do banco nem do volante, mas, ao contrário do que é padrão, parece que as Uno mais básicas foram feitas para motoristas bem altos. Com o banco pouco além da metade do seu curso, me acomodei muito bem, com amplo espaço para as pernas, braços dobrados corretamente e coluna semi-ereta. Minha cabeça estava longe do teto e meus ombros longe das janelas, sem nenhuma sensação de claustrofobia.

Convém dizer que eu tenho 1.90m e a altura do volante estava corretíssima para o meu uso. Meu pai com 1.75m achou o banco muito baixo e o volante muito alto. Logo, tenha em mente que a regulagem de altura do banco/volante é um opcional mandatório para aqueles mais próximos da altura padrão do brasileiro.

A ergonomia do carro é muito boa, com os comandos próximos à mão do motorista. Até mesmo o acionamento dos vidros elétricos dianteiros no painel (one touch subida e descida), como o Fiat 500, não ficou tão ruim, é apenas questão de costume.

Os comandos de acionamento dos faróis/lanternas é padrão, assim como o acionamento dos limpadores. Por sinal, o limpador dianteiro possui a útil função "uma varrida" quando o lavador é acionado. Pode-se dizer que é um luxo no segmento em que o carro se encontra.

Indicador de porta aberta, um luxo.
Esse modelo Vivace possui econômetro mas não possui conta-giros, nem computador de bordo, que por sinal é opcional apenas do Sporting. Mas oferece ao motorista medidores digitais de temperatura e combustível, de boa visualização, concentrados em um display redondo de bom gosto. Há ainda um excelente indicador de portas abertas, raro no segmento e bem útil a qualquer modelo.

À esquerda do volante, há uma série de botões sem uso, além dos acionadores do desembaçador traseiro e faróis de neblina. À direita, os comandos do ar-condicionado, que são meio duros e imprecisos, passando a impressão (real) de serem feitos para custar pouco. Abaixo destes, um porta objetos meio inútil que sequer abrigou meu celular. Sobre o porta-luvas, há um porta objetos melhor, com ressaltos para divisões, tendo a tomada 12V à esquerda. Porém, qualquer objeto colocado ali irá fazer bastante barulho, pelo contato direto com o plástico duro, algo comum no segmento.

Logo abaixo há dois porta-latas, pois copos maiores do que 300ml não cabem ali. No teste do Drive Thru, aonde eu tento colocar copos de 500 ml nesses compartimentos, a Uno não foi aprovada. Em cada uma das portas há um porta-garrafas, mas também servem apenas como porta-latas. Apesar do bom tamanho, são rasos e atrapalhados pelo puxador da porta, não permitindo que garrafas fiquem em pé ali, sujeitas a cair e atrapalhar a vida do condutor e passageiro.

Acabamento da porta
O acabamento da porta é todo em plástico rígido, inclusive o ponto aonde o cotovelo se apóia. Também é algo comum no segmento e denota o baixo custo do modelo. O puxador em tonalidade mais clara é de bom gosto, expressa alguma modernidade. O porta-objetos aí é muito bom, com uma boa profundidade. As maçanetas são feitas de um material pobre, dando a impressão que irão quebrar cedo ou tarde. Estas também são responsáveis pelo acionamento das travas, empurrando a maçaneta para dentro, padrão nos Fiat. Os comandos do retrovisor são fáceis de operar e, ao lado destes, há o lugar reservado aos tweeters.

O acabamento dos bancos é bom, e o tecido é de bom gosto. Quanto aos assentos, são duros, oferecem pouco conforto e pouco apoio para a região lombar. Após algumas horas dirigindo o modelo, foi inevitável não sentir dor nesta área. Os apoios de cabeça são costurados no banco e não permitem regulagem, mas parecem aptos a cumprir sua função para motoristas de qualquer estatura, no caso de uma colisão traseira. Já a regulagem da inclinação do encosto é péssima, efetuada por alavancas localizadas no local correto, próximas ao encaixe dos cintos de segurança. O modo de operação é padrão, eleve as costas do encosto, puxe a alavanca para baixo para subir o encosto e, para descer este, puxe para cima. Parece simples, e é, mas o ajuste milimétrico é impossível e convém dispor de bastante paciência para encontrar a posição correta.

Atrás, bom espaço para as pernas
Como pode ser visto na imagem acima, o espaço para as pernas no banco traseiro é bom. Quatro Marcelos viajariam tranquilos no carro, pois na foto acima o assento dianteiro está regulado exatamente para mim. Já o quinto Marcelo teria que ir de ônibus ou pegar carona no Sandero de alguém, o único carro popular que carrega cinco Marcelos sem problema.

Há cintos de três pontos nos assentos laterais e cinto abdominal no meio, mas nenhum destes é retrátil. O comando dos vidros é manual, neste e em qualquer Fiat Uno. Não sei o motivo da Fiat não ter disponibilizado vidros elétricos traseiros e retrovisores elétricos para a Uno, mas são itens importantes que não podiam ser deixados de fora, principalmente para um carro popular, voltado para muitas pessoas que irão colocar a família inteira dentro destes e viajar longas horas no primeiro feriadão que vier. Ei Fiat, crianças adoram girar a manivela dos vidros sem os pais saberem.

Porta traseira
A abertura das portas traseiras é razoável, compatível com seu entre-eixos curto herdado da plataforma do Palio. O resultado disso são portas que abrem o suficiente, mas atrapalham a vida de pessoas com pé 43, como é o caso deste que vos escreve. Pessoas com pé de tamanho normal não terão problemas. Os bancos traseiros estão em posição levemente mais elevada que os bancos dianteiros, mas o espaço para a cabeça continua excelente, fruto do teto bem elevado.

Apoios de cabeça em vírgula
O único revés para os passageiros que viajam atrás são os irritantes apoios de cabeça em forma de vírgula. São apenas dois, que precisam ser elevados sempre que alguém desejar usar um desses assentos, caso o contrário eles incomodarão sem dó. Os defensores do apoio de cabeça em forma de vírgula dizem que são úteis para não atrapalhar a visibilidade do motorista quando não estão em uso, mas esquecem que algo a ser operado o tempo todo requer no mínimo um pouco de facilidade de utilização, que não é o caso do duro acionamento destes apoios de cabeça. E, ainda, apoios de cabeça normal aí pouco criariam um ponto cego, visto que as colunas traseiras largas da Uno já fazem esse trabalho por conta própria.

O porta-malas de 280 litros é suficiente e bom para um compacto. Apesar do banco traseiro não ser bipartido, o acesso ao compartimento de cargas é fácil, uma vez que a boca do porta-malas possui boa abertura e o recorte no para-choque faz com que o porta-malas não fique tão fundo, facilitando a entrada/saída de cargas mais pesadas.

Puxador muito alto
O revestimento interno da tampa do porta-malas é nulo, mas pelo menos uma capa plástica protege o motor do limpador traseiro, tendo ainda um puxador, para facilitar a tarefa de fechar o porta-malas, isso, claro, para aqueles que são mais altos. Minha noiva de 1.70m teve dificuldades para alcançar o puxador da tampa. Isso também pode ser problemático para aqueles que possuem uma garagem baixa, pois a tampa se eleva fácil a quase 2 metros de altura.

Material termoabsorvente

O estepe, de mesmo tamanho dos outros pneus (175/65 R14) dorme dentro do porta-malas e sua retirada é fácil e sem maiores problemas. Na foto acima pode-se verificar a aplicação visível de material termoabsorvente, para evitar que o calor do escapamento frite aquele bife que você comprou no mercado antes de você chegar em casa, como pode acontecer em outros populares (e não tão populares assim, como o Agile).

A visibilidade interna e externa do modelo é muito boa. Os retrovisores externos são planos mas enormes, permitindo que se ache com facilidade o ponto ideal. O retrovisor interno cobre bem a área do vidro traseiro, que tem tamanho suficiente para proporcionar boa visibilidade, sem qualquer problema para o motorista.

O modelo que avaliei não possuía chave com telecomando, mas ao acionar as fechaduras, a luz de salão (single spot) acendia gradualmente. Ao travar o carro, apagava da mesma forma que acendia. O mesmo acontece ao colocar a chave no contato e ligar o veículo, o que faz com que as luzes apaguem lentamente, como em um teatro, algo bobo, mas que abre um sorriso no rosto daquele que comprou um carro sabidamente barato e espartano.

Acionamento interno do porta-malas não há, nem manual quanto menos elétrico, e requer que seja feito externamente pela chave. Também não há acionamento do tanque de combustível de outra forma que não seja pela chave. O acionamento da tampa do motor é feita por uma alavanca padrão, de plástico duro e com rebarbas, que pode machucar mãos mais sensíveis.

No geral o acabamento é correto, as peças possuem qualidade de montagem aceitável, apesar das rebarbas e dos parafusos à mostra. As saídas de ventilação são redondas, possuem péssima manuseabilidade e são muito ruins à vista, passando extrema sensação de fragilidade e pobreza. Mas pelo menos cumprem seu papel com dignidade.

O ar-condicionado do modelo é bom, gela a cabine com facilidade e o modo de recirculação mantém o ar externo (e seus odores) longe da cabine. Um problema nesse modelo específico que avaliei é que um zumbido do ventilador quebrava o silêncio interno sem cerimônia, se tornando mais irritante conforme se aumentava a velocidade de ventilação.

Na próxima parte, irei citar os aspectos de dirigibilidade e uso na cidade e estrada do modelo, bem como consumo e outros dados importantes.

Marcelo Silva

Fotos: Marcelo Silva (acervo pessoal)

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