sábado, 27 de agosto de 2011

Renault Symbol, o Injustiçado

Qual o problema comigo?

Hoje mais cedo resolvi vistar uma concessionária Renault e me passar por interessado em comprar um Renault Symbol Privilège 1.6 16V, com direito à inclusão do único opcional, os Freios ABS, que custam R$ 1.590.

Ao entrar no show room, me deparei com um modelo idêntico ao que eu estava "procurando". Dei uma volta em torno do carro, pude contemplar suas belas rodas e os excelentes pneus Continental ContiPremiumContact assimétricos 185/55 R15. O design me agrada. Não causa amor à primeira vista, mas também não é feio como o carro do qual ele derivou, o Renault Clio Sedan.

Do alto dos meus 1,90m, me posiciono perante o Symbol e o vejo totalmente de cima, do jeito que eu gosto. Particularmente não gosto dessa mania de carros cada vez mais altos. Mas a maçaneta precisava ser tão baixa? Felizmente não vou precisar colocar a chave ali toda vez que quiser abrir a porta, pois o carro possui alarme e travas elétricas por telecomando. 

Me inclino para abrir a porta e ter acesso ao interior e devido à altura do carro, entro cuidadosamente para não bater a cabeça. Nem precisava tanto, o risco de uma pancada existe mas é pequeno. Entro e apóio o corpo no confortável banco de veludo, com apoios corretos nas laterais e maciez na medida. Mas sinto que algo está muito estranho, estou em uma posição alta demais, com minha cabeça encostando no teto. Eis que passo a mão pela lateral e acho a alavanca da regulagem de altura. Primeiro empurro para baixo e vejo que o funcionamento não é desse tipo, então puxo a alavanca toda pra cima, sinto o banco cair de uma vez e...agora sim! Que altura de dirigir agradável! 

O assento do banco está quase no assoalho e minha cabeça está longe do teto, nada poderia ser melhor. Regulo a distância e vejo que no final do trilho minhas pernas ficam esticadas demais e minha mão longe do volante. Puxo o banco um pouco para a frente e encontro a distância ideal. Bom saber que nada encosta na minha perna, elas tem todo o espaço que precisam.

Regulo a altura do encosto por uma roldana à direita, que permite ajuste milimétrico. Regulo no ângulo ideal, tendo meus braços dobrados como manda o figurino. Os apoios de cabeça são uma moleza para regular e o volante (grande) tem regulagem de altura, ajudando a melhorar o que já era perfeito. No meu caso nem fez falta a regulagem de distância, ausente no modelo.

Todos os comandos necessários estão à mão, inclusive a regulagem dos retrovisores elétricos na porta, à frente dos acionadores dos vidros elétricos dianteiros. Já a regulagem dos vidros elétricos traseiros fica entre os bancos dianteiros e todos acham ruim. Na minha opinião, pode até ser ruim para os passageiros do banco traseiro, que irão enfrentar problemas para acionar os vidros se houver um passageiro no meio, mas para o motorista, não tem erro acionar os vidros por ali. Pelo menos não há o risco de acionar o vidro traseiro querendo acionar o dianteiro e vice-versa, como já ocorreu comigo, quando na direção de carros com os comandos amontoados.

Não há dificuldade em alcançar os comandos do ar-condicionado digital. Para controlar o rádio (sem nenhuma entrada auxiliar), há um prático comando satélite atrás do volante. Particularmente acho melhor do que botões no volante para essa finalidade. O botão do pisca alerta fica no meio do painel, em um local correto, enquanto as hastes atrás do volante possuem os comandos usuais, com o acionamento do computador de bordo feito por um botão na extremidade da haste direita.

Por falar em computador de bordo, o painel de instrumentos da versão (11/11) era diferente do que pode ser visto no site. Os instrumentos eram iguais aos do Sandero/Logan 2012, compartilhando também o computador de bordo e os mostradores digitais para combustível e temperatura do líquido de arrefecimento. Diante disso, esqueça as informações do painel de instrumentos que estão presentes no manual. Esqueça também as funções de consumo instantâneo e nível do óleo, presentes apenas no computador de bordo antigo do Symbol.

Felizmente o display multifunção foi mantido no topo do painel, aonde pode-se verificar a temperatura externa e a hora, além das informações do rádio RDS, caso este esteja ligado. Aliás, é fato que o painel de instrumentos/computador de bordo do Logan/Sandero possui relógio também. Então será que o Symbol possui dois relógios? Sim, possui. Não faz sentido, mas possui. Mais tarde ao ligar o carro eu perceberia isso, um verdadeiro viva à gambiarra.

Saídas de ar quadradas, como devem ser.

O acabamento do carro abusa de plástico rígido, mas este varia em cores e textura e é bem montado, passando uma impressão positiva. As saídas de ar são quadradas, como devem ser, e permitem um bom direcionamento do fluxo de ar sem apelar para a mesquinharia. Há um porta-copos simbólico abaixo do ar-condicionado, à frente do cinzeiro e do acendedor de cigarros.

Os bancos são de veludo na versão Privilège, agradáveis ao toque, mas são um tormento para limpar, sendo melhor o futuro dono negociar o revestimento de couro que a concessionária oferece. Negocie também o sensor de estacionamento, pois apesar dos retrovisores terem boa dimensão, não dá pra ter muita noção de onde termina o carro.

Notei que o fechamento das portas tem um som agradável. Não é agradável como fechar as portas de um Fluence, mas não dá a mesma impressão de baixo custo que se tem ao fechar as portas de um Logan. Ao abrir a porta traseira, aí sim eu dei uma cabeçada no teto. Me posicionei no confortável banco e vi que o espaço para as pernas é aceitável, mesmo eu sendo um sujeito alto que estava posicionado atrás do banco que foi posicionado também para um sujeito alto, eu. Mas já o espaço para cabeça é ridículo. Não há condição de manter a coluna reta, o teto não deixa. Como a única pessoa que dirige meus carros sou eu mesmo, não vejo nisso um problema, mas não deixa de ser algo que atrapalha as vendas do Symbol.

A alavanca para abertura do cofre do motor tem acionamento macio, enquanto é bem simples encontrar o gatilho para liberar a trava do capô. No interior do cofre, é fácil identificar todos os pontos que precisam de verificação/manutenção e, se você for um tarado automobilístico como eu, vai achar o motor Renault K4M Hi-Flex 1.6 16V lindo.

O porta-malas gigantesco tem acionamento elétrico, mas não abre pelo interior do carro e nem pela chave. Com o carro destravado, é necessário apertar um botão que fica dentro do logotipo da Renault na traseira, uma solução de bom gosto. Abro a tampa e encontro o leito do estepe, como é o certo, mas a herança maldita do Clio Sedan faz com que ele esteja meio longe do alcance das mãos, parecido com o que ocorre no Voyage. Pelo menos a Renault deixou um caminho inclinado para o pesado (185/55 R15) estepe deslizar até o lado de fora. Com o carpete no lugar certo, fica um vão aonde o triângulo repousa solto.

Demonstro minha intenção pelo test drive e o atencioso vendedor solicita minha habilitação. Menos de dois minutos depois o camarada já está de volta com a chave do Symbol e a documentação. A chave é igual à do Clio, com dois botões para abertura/fechamento do carro e nada mais. Sequer um símbolo da Renault. Bem minimalista em tempo de chaves canivete que brilham no escuro, dão pirueta e servem cafézinho.

O modelo que me aguarda ao lado de fora é um Privilège vermelho metálico, ou Vermelho Fogo como prefere a Renault. A cor é bem atraente e cai bem no Symbol, mas não seria a minha escolha. Eu optaria por um Azul Crepúsculo ou Cinza Acier. Na falta destes iria de Preto Nacré e pronto.

Ao destravar a porta pela chave, não há nenhum alarde, as portas apenas se destravam e pronto. Aliás, um toque destrava a porta do motorista, dois toques destravam o resto. Muito bom para evitar que algum intruso entre pela porta traseira sem você perceber enquanto você entra no carro (isso se ele conseguir entrar sem bater a cabeça no teto...). Na hora de travar, um toque trava todas as portas. 

Entro no carro e viro a chave, os três displays LCD se acendem me dando as boas vindas, inclusive revelando os dois relógios (marcando horas diferentes, diga-se passagem). Puxo o cinto de segurança com facilidade e ajusto a altura deste com perfeição. Verifico que o pára-sol do motorista não possui espelho, apenas o típico porta-documentos, ou seja, um carro másculo. No pára-sol do lado direito há um espelho de cortesia, sem iluminação, que deve ser feita pelo spot direcional para leitura de mapas, igual ao spot de iluminação encontrado nos aviões.

Afundo o pé na embreagem com peso e curso corretos, não muito longa e nem muito macia. O câmbio é duro, culpa do acionamento por varão, oriundo do Clio Sedan e diferente do usado no Sandero/Logan. Já que copiaram o painel de instrumentos, podiam ter copiado o câmbio também, não? Mas ainda assim, é apenas questão de costume, pois os engates são, pelo menos, precisos. Mais uma amostra da masculinidade do carro, bem como os bancos que vão "até o chão" e a direção hidráulica pesada, que também são do meu agrado.

Com o argentino Symbol na rua e o ar-condicionado configurado para 18 ºC, dou uma acelerada curta em segunda marcha até o semáforo e o carro responde bem, mesmo sem chegar às 3750 RPM, aonde o torque máximo de 15,5 kgfm (E100) está disponível. Enquanto a luz vermelha não dá lugar à verde, passeio pelas funções do computador de bordo e confirmo o empobrecimento de funções, infelizmente. 

Sinal aberto, engato a primeira marcha e afundo o pé, acordando de vez o motor K4M e fazendo com que o som do motor viesse a invadir a cabine pela primeira vez. O som é encorpado e agradável, nada esportivo, apenas agradável. Ignoro a trepidação do câmbio e engato a segunda, o giro pouco cai e o motor pede mais, demonstrando aquela deliciosa injeção de ânimo ao passar das 4000 RPM no ponteiro, característica inegável (e apaixonante) dos motores multiválvulas. Engato a terceira marcha e logo os 100 km/h são alcançados, mas não há mais espaço para a diversão e eu subo no freio, que responde bem, apesar de ter o acionamento um pouco duro, compensado pela boa progressividade.

Faço uma curva fechada com um pouco mais de ímpeto e o carro inclina um pouco, mas não o suficiente para provocar susto ou ameaçar a tarefa de agarre dos competentes pneus. A suspensão tem uma calibragem impecável, sendo macia o suficiente para ignorar os paralelepípedos da rua que entramos logo depois e também é dura o suficiente para não deixar o carro flutuar após encarar uma lombada (em segunda marcha, com suavidade, da forma que todos deveriam fazer).

Por falar em lombada, foi justamente ao transpor duas delas que ouvi um ruído estranho na suspensão traseira, que talvez pudesse ser uma característica do carro de test drive, que também apresentava defeito no botão de acionamento da luz interna. 

A vida é boa no interior do Symbol. Ele filtra muito bem os ruídos externos, o ar-condicionado é agradável e silencioso e o sistema de som, apesar de não possuir nenhuma entrada auxiliar, tem uma qualidade excelente, com riqueza de informações no display multifuncional. Também é agradável dirigir calmamente o carro, as respostas são boas mesmo em baixo giro, dá para dirigir em 1-3-5 sem erro, mesmo sendo um multiválvulas que não possui câmbio curto em demasia. Bom demais!

Estaciono o carro de volta na concessionária e questiono o vendedor sobre o modelo 11/12, visto que aquele modelo ali ainda era 11/11. Ele me disse que a única mudança no 11/12 seria a adoção de um rádio com USB e entrada auxiliar, nada mais. 

Bem, eu duvido. O único rádio Renault com entrada USB é o 2-din do Sandero/Logan. Pode ser que apareça alguma solução de USB box como a Peugeot/Citroen fez no 207/C3, mas disso eu também duvido mais do que acredito. A julgar pelo empobrecimento feito no painel de instrumentos, tenho medo que a Renault adote um som genérico (como o finado Symbol Connection), tornando inúteis tanto o comando satélite quanto o display multifuncional. Pode ser também que surja um rádio Renault 1-din com USB, uma evolução do rádio anterior do Logan/Sandero, para aproveitar o comando satélite e disponibilizar este para Clio/Symbol e os Logan/Sandero mais baratos. Mas isso provavelmente transformaria o display multifuncional em um porta-objetos, como no Clio. Tomara que não.

Fui então para a mesa de negociações. Sem fazer nenhuma oferta, o vendedor logo me informou que o preço seria de R$ 41.250,00 para o Symbol Privilège (1.6 16V, 115cv) com o ABS opcional, nas cores prata ou preto, que são metálicas. Um belo desconto, pois montando o mesmo carro pelo site resulta em um valor de R$ 46.880,00. E o carro possui 3 anos de garantia.

Vamos analisar a concorrência. O J3 Turin possui 6 anos de garantia e custa R$ 39.990, mas tem um motor mais fraco (1.3 16V de 108cv), sofre o preconceito de ser chinês, tem um acabamento pior, não possui ar digital nem computador de bordo, não possui regulagem de altura do banco/cinto de segurança entre outras coisas mais. O Fiesta Sedan 1.6 pode ser comprado pelos mesmos R$ 39.990 com ABS e airbags, mas essa versão não possui rodas de liga leve, o interior é mais simples, não possui ar digital e muito menos os comandos satélites do som, além de possuir um motor mais fraco (1.6 8V de 107cv) e a garantia dura apenas 1 ano.

Siena e Voyage com o mesmo nível de equipamentos custam mais caro, sendo que nenhum deles possui ar digital, além de suas garantias serem de 1 ano apenas. 207 Passion possui um motor tão bom quanto o do Symbol, ar digital e outros mimos, mas é mais caro e possui 1 ano de garantia.

Diante disso, o maior inimigo do Symbol está dentro de sua própria casa, o Logan. Esse possui um visual menos moderno, um motor mais fraco (1.6 8V), não possui ar digital e é menos requintado. Mas custa um pouco menos, tem muito mais espaço e possui um rádio mais moderno. Além disso, é o preferido da mãe Renault, já ganhou versão 2012 e possui os mesmos 3 anos de garantia, com preço de revisão mais em conta e promessa de manutenção mais barata também.

É uma pena, pois o Symbol tem qualidades de sobra para liderar o segmento. Se na sua grade houvesse um logotipo da Fiat ou VW, ele custaria mais caro e venderia o triplo do que vende hoje. A vida é dura.

4 comentários:

  1. Tenho um e adoro o meu. Só tem três coisas que precisava melhorar: o consumo do combustível é um pouco acima do normal; colocar entrada USB no rádio e aceder umas luzes nos faróis quando trava e destrava (na pressa, isso ajuda a saber se travamos ou não o veículo).

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  2. Tenho um 11/11. Muito bom. Só vendo quando não tiver mais jeito.

    Só me faz falta a entrada auxiliar do som. Talvez até exista uma escondida por trás do equipamento.

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  3. A embreagem dó sybol e mais duras ou não

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