terça-feira, 4 de outubro de 2011

Latin NCAP, fase II

Finalmente foi anunciado o lançamento da Fase II do Latin NCAP, a ocorrer no dia 24/11/2011 em SP, com a divulgação do resultado dos testes de impacto realizados com carros latino-americanos na ADAC, Alemanha.

De acordo com a Latin NCAP, os carros foram selecionados de acordo com o seu desempenho de vendas (e fabricados) nos principais mercados abrangidos pelo órgão que, no caso da Fase I, foram Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.

Na Fase I, dentre os carros testados, são vendidos no nosso mercado o Gol G5, Palio G4, Peugeot 207, Meriva e Corolla. A Meriva testada tinha airbags (algo que poucas Merivas 2010 tinham) e teve um bom resultado estrutural, exceto pela abertura da tampa do porta-malas que não devia ocorrer. O Corolla também teve um bom resultado estrutural, algo esperado.

Mas vamos analisar os carros pequenos, mais baratos e mais vendidos do que os outros dois acima, pois aí é que a situação fica feia. Não vou me aprofundar no resultado dos testes e sim nas fotos abaixo, aonde pode-se efetuar uma análise visual da estrutura dos veículos após o impacto.

Vejamos primeiro o Gol G5:

Gol G5 sem airbags.
A configuração acima é a mais vendida do Gol G5, sem airbags. Podemos verificar que o carro teve um bom desempenho estrutural, com boa absorção de impacto pela deformação exemplar da área frontal e uma pequena deformação da coluna "A" (coluna do pára-brisa, lado esquerdo), demonstrando que a cabine do veículo se manteve bem íntegra.

Verificando a deformação nas portas, podemos ver que o impacto foi bem distribuído pela estrutura do carro, amenizando o impacto para os ocupantes e demonstrando que o carro possui uma boa construção, fruto da herança do Polo, que emprestou a estrutura para o desenvolvimento desse Gol G5.

O grande problema do Gol é a falta de airbags. O dummie (motorista) acertou a cabeça com violência no volante, dando ao carro o resultado pífio de 1 estrela pelo Latin NCAP.

Vamos ver abaixo o Palio G4:

Palio G4 sem airbags.
Compare a imagem do impacto do Palio com a imagem do impacto do Gol. Eis a diferença entre as plataformas. O Palio utiliza a mesma plataforma do Palio G1, que foi lançado em 1996. Já o Gol utiliza a plataforma PQ24 do Polo, que foi lançada em 2002, mais moderna e utilizando uma filosofia de absorção de impacto superior à usada pelo Fiat.

Como podemos ver, a área frontal se deformou totalmente absorvendo o choque conforme possível, mas não o suficiente para evitar a deformação considerável da coluna "A" bem como a deformação do teto. De qualquer forma, o habitáculo (parte aonde ficam os ocupantes) se manteve bem íntegro, mas não tanto como no Gol G5.

Novamente a falta de airbags fez com que o dummie fosse lançado violentamente contra o volante, aumentando o risco de lesões graves e causando o resultado de 1 estrela para o Palio G4. 

E, por último, o terceiro carro pequeno testado e que também é vendido aqui, o Peugeot 207:

Peugeot 207, com airbags e vergonhoso.
Compare a imagem do Peugeot 207 com Palio e Gol. A deformação da coluna "A" é simplesmente vergonhosa neste carro. A área frontal não foi suficiente para absorver todo o impacto e fez com que o habitáculo sofresse grande invasão pela coluna "A", que recuou muito para trás, causando também grande deformação do teto e inclusive deformação da estrutura do assoalho do veículo, abaixo das portas. Mesmo com airbags o Peugeot 207 recebeu apenas 2 estrelas no teste.

O Peugeot 207 usa a mesma plataforma do Peugeot 206, de 1998, portanto mais nova que a plataforma usada pelo Palio, logo, esperava-se um desempenho superior. Mas será que a Peugeot deu bobeira no desenvolvimento dessa plataforma? E afinal, qual o motivo por eu ter escolhido o Peugeot 207 COM airbags para essa análise?

O motivo foi realizar uma comparação com um Peugeot 206 testado pela EuroNcap em 1998:

Peugeot 206 1998 EuroNcap
Compare bem a diferença. A velocidade de impacto é a mesma, bem como a dinâmica do teste. A absorção de impacto pela área frontal do veículo é exemplar, o choque foi bem distribuído pela estrutura do habitáculo causando deformação mínima da coluna "A" e do teto, ficando entre o Palio G4 e o Gol G5, respeitando o resultado esperado devido à idade das plataformas. O Peugeot 206 obteve 4 estrelas nesse teste.

Então qual a explicação para um modelo de 1998 ser melhor que um modelo 2010, sendo que ambos usam a mesma estrutura? Será que o material usado para fabricar os carros aqui é de qualidade inferior ao material usado para a fabricação dos mesmos carros na Europa? Controle de qualidade deficiente talvez?

Essas perguntas ficarão sem respostas até que nós, consumidores, venhamos a nos conscientizar que não podemos aceitar pagar uma quantidade altíssima de dinheiro por carros obsoletos de baixa qualidade.

Estou aguardando ansiosamente os resultados da Fase II, aonde espero ver Celta, Classic, Ka, Mille, Gol G4 e Clio sendo lançados contra a parede sem dó.

Marcelo Silva

Crédito das Fotos: 01-03, 04


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